quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

COMENTÁRIO FINAL SOBRE A TEMÁTICA "ACTIVIDADES SOCIAIS ONLINE E DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE NOS JOVENS"

Este tema é particularmente interessante, na medida em que nos permite, a nós, professores e bibliotecários (logo, gestores de produtos e instrumentos digitais caros aos nossos alunos), ganhar uma percepção actualizada das novas formas como os "velhos" processos mentais e emocionais de construção da identidade na adolescência se vão fazendo.
Como educadores que somos (e, desejavelmente, adultos com boa memória do seu próprio crescimento e processo de construção da identidade e sua partilha junto dos outros, particularmente os pares), temos a capacidade de compreender as motivações dos adolescentes, as inseguranças, os desejos, as demandas que os movem, que lhes servem de razão para viver, para conviver. O que tem vindo a mudar são os formatos sobre os quais estes se movimentam. É importante não confundir forma e conteúdo, no que respeita às movimentações dos adolescentes, nas suas vivências sociais, pessoais, académicas (e receio que esta confusão seja por vezes a base de interpretações erróneas, até preconceituosas, da parte dos adultos). E são este formatos que devemos fazer o esforço de conhecer, nas maneiras como são manuseados e nos fins a que se destinam. O mundo digital - telemóveis, computadores, Internet, SNS... - constitui o acervo funcional, a maleta de ferramentas de que os adolescentes se servem. E este espólio é-lhes muito mais caro do que a nós, adultos, que o apreciamos sobretudo numa perspectiva funcional/ utilitária. Para os adolescentes, estas "ferramentas" são extensões da alma e do pensamento, na medida em que constituem os meios através dos quais estes se podem exprimir, partilhar, construir.
Se a nós, adultos, nos parece bizarra ou ridícula a dependência que os adolescentes parecem ter em relação, por exemplo, aos telemóveis, talvez seja pertinente estabelecer paralelismos com as ferramentas de que nos servíamos, quando tínhamos as suas idades: as cartas que trocávamos com os amigos e por que esperávamos ansiosamente, os telefonemas infindáveis que tanto enervavam os nossos pais, os bilhetinhos trocados por debaixo das mesas, em plena aula (quais SMS em formato impresso!). Os formatos eram diferentes, sem dúvida, eventualmente mais "românticos", especialmente para quem goste de "dourar a pílula" em relação ao passado, mas os propósitos eram exactamente os mesmos e a incompreensão dos adultos também.
Numa perspectiva educativa, no seu sentido mais lato, é-nos importante conhecer estas novas ferramentas, porque, tal como poderia suceder connosco quando adolescentes, elas também são passíveis de ser utilizadas para magoar ou fazer mal aos jovens de hoje. O que não podemos fazer é entrar numa espiral de medo histérico, amaldiçoando as novas tecnologias, porque sabemos bem que viver e crescer significam expor-se, e esse gesto arrojado e inevitável de quem quer viver MESMO comporta riscos. Sempre comportou. Mas não foi por isso que deixámos de arriscar, não é? Os jovens de hoje também têm de o fazer. E nós não os podemos impedir. Podemos vigiar, apoiar, questionar, orientar, mas nunca condicionar, coarctar, restringir. Podemos andar com o coração nas mãos, tal como os nossos pais andaram (e talvez ainda andem e nós, adultos orgulhosos e independentes, nem nos demos conta...) connosco. Mas temos de os deixar andar, seguindo caminhos que não são os nossos. E ainda bem que não são!

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